São Paulo - O filme Apolo 13, estrelado por Tom Hanks em 1995, ajudou a mudar o curso da vida de Reed Hastings. Não pelo conteúdo da história inspirada no resgate de uma missão espacial americana, mas pela multa que recebeu por atrasar a entrega da fita.
Os 40 dólares já eram, em 1997, uma despesa insignificante para o fundador de uma das 50 maiores empresas de software do mundo àquela época. Mas serviram de estalo para idealizar um sistema de locação de DVDs pelo correio, com mensalidade fixa.
O nome da companhia – Netflix – mirava na inovação proposta por ele: o de transmissão online de filmes, séries e programas de TV. No mundo todo, a empresa reúne hoje mais de 25 milhões de assinantes. No Brasil e na América Latina, o serviço de 14,99 reais atingiu em um ano a marca de 1 milhão de usuários, passando a ser uma opção principalmente para os fãs das séries.
A previsão do CEO e co-fundador da empresa, que chega nesta quinta-feira a São Paulo para comemorar o primeiro aniversário brasileiro, é de que em 20 anos quase a totalidade da transmissão de vídeo estará na web, com grande integração com redes sociais, principalmente o Facebook - site onde tem cadeira no conselho de diretores e do qual recentemente adquiriu 1 milhão de dólares em ações, no momento de queda. “Não penso nas oscilações de curto prazo”, afirmou, por telefone, na seguinte entrevista ao site de VEJA:
Os campeões de audiência reúnem milhões de pessoas diante da TV em um mesmo horário. Essa forma de assistir televisão vai morrer?
As transformações serão diferentes para cada tipo de programação. As grandes transmissões de esporte pressupõem todos os espectadores ligados ao mesmo tempo. Esta é uma categoria que terá vida longa no modelo de broadcast tradicional, pois há algo especial na sensação de compartilhar aquele momento em frente à TV com milhares de torcedores. Não vejo este comportamento desaparecendo. Isso é muito diferente de quando a pessoa está surfando nos canais, sem certeza sobre o que quer ver. Esta é a parte da televisão que é muito melhor na internet, porque a forma de escolher é mais precisa. Esta separação já está acontecendo. Se você sabe o que quer ver, como seu esporte preferido ou um novo episódio específico de novela, a TV tradicional é muito boa. Mas ela não é boa se você está procurando um conteúdo interessante.
Isso significa que os canais no futuro não vão competir diretamente nas faixas de horário?
Este é o ponto central. Por 70 anos, tivemos apenas a TV linear. Primeiro por transmissão por antenas, depois por cabo e satélite. Por muito tempo, a graça esteve em ter à disposição mais e mais canais lineares, que transmitem a mesma programação para todos os clientes. A próxima grande onda são as redes de TV na internet. Na TV ‘on demand’ você pode ver uma série e, se gostar, ver o primeiro episódio, ou toda a temporada. É o espectador quem escolhe se verá o programa ao voltar do trabalho ou às duas da manhã. Essa flexibilidade tremenda vem da natureza da internet e dos serviços sob demanda. Penso que surgirão muitas novas redes como a Netflix e a HBO Go, que são os grandes exemplos hoje em dia.
Atualmente é possível comprar TVs que acessam a internet, são controladas por voz e movimento, como os videogames. O aparelho de TV do futuro terá mesmo tantas funções?
O que acontece agora com as TVs inteligentes já aconteceu com os smartphones. Elas são o futuro. Mas inicialmente nem todo mundo se interessa pelos modelos com novas funções, como acesso à internet e todo o conjunto de aplicativos que se pode baixar e usar no dia a dia. E é claro que nem todo mundo pode pagar por isso. Mas esses custos vão cair mais e mais, tornando o produto acessível, ao mesmo tempo em que mais pessoas se convencem de que há inovações úteis, mesmo que não seja alguém muito interessado em tecnologia de ponta. Pense nas TVs como iPads gigantes. Elas terão aplicações, serão flexíveis para o usuário. Será algo conveniente para ter na casa. Alguns modelos poderão ter tela sensível ao toque, exatamente como os tablets, e formas diferentes de controle, como o acionamento por voz e gesto. A diferença principal estará no acesso à rede e na atualização constante, como ocorre com os computadores.
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