ANCINE: Criador da Netflix faz aposta no Brasil




SÃO PAULO – Reed Hastings é um entusiasta do Brasil. Eleito uma das cem personalidades mais influentes de 2011 pela revista “Time”, o diretor-executivo e cofundador da Netflix desembarcou na capital paulista para festejar o primeiro aniversário da operação de seu sistema no país. O serviço de vídeo por demanda, disponibilizado por aqui antes de chegar à Europa, já soma mais de um milhão de usuários na América Latina, em sua maioria concentrados em Brasil e México. Nesta entrevista, Hastings faz um balanço dos primeiros 12 meses da Netflix Brasil.



Como o senhor avalia a polêmica Instrução Normativa 105, da Agência  Nacional do Cinema (Ancine), que prevê a cobrança de até R$ 3 mil por vídeo estrangeiro disponibilizado por serviços de streaming?
Acho que ainda é muito cedo para sufocar as inovações da internet. Até agora, o governo brasileiro tem ido muito bem em não regular demais a internet, tentando entender as inovações tecnológicas, então esperamos que esse tipo de comportamento se perpetue.


O senhor acompanha o comportamento dos usuários brasileiros? Que tipo de conteúdo já foi adicionado à Netflix?
Sabemos que, no Brasil, o uso dos dispositivos usados para assistir a Netflix se compara ao resto do mundo. Aqui os assinantes também se dividem entre laptop, tablet, celular, Playstation 3, XBox. Os brasileiros são apaixonados por tecnologia. O que fizemos foi testar conteúdos inéditos e oferecer gravações de lutas de UFC, esporte popular aqui. Graças à boa audiência, resolvemos distribuir esse material ao redor do mundo. No mais, o gosto do usuário brasileiro é comparável ao resto do mundo.


Quantos títulos a Netflix disponibiliza no Brasil hoje?
Quando nós pensamos no YouTube, temos, não sei, um milhão de títulos? Mas nem todos são interessantes. Tentamos não classificar a Netflix pelo número de títulos, porque optamos por oferecer grandes produções como “Jogos vorazes” em vez de termos um excesso de produções menores. Preferimos a qualidade à quantidade. Em alguns casos, o catálogo brasileiro é até melhor que o americano. Aqui vocês têm acesso a trilogia de “O poderoso chefão”, mas nos EUA isso não acontece, porque a HBO comprou os direitos do filme. “Jogos vorazes”, que está sendo exibido no Brasil e bateu nossos recordes de audiência, só vai chegar aos nossos usuários americanos daqui a nove meses.


A chegada da Netflix ao Brasil motivou a vinda e a criação de serviços similares, oferecidos por canais de TV a cabo a seus assinantes, como a HBO Go e o Telecine Play. Como o senhor vê a concorrência?
Somos pioneiros. Os canais tradicionais de TV a cabo criaram um serviço parecido com o nosso para aumentar seu alcance fora do aparelho, enquanto a Netflix sempre mirou na internet. Nós competimos pelo tempo, simpatia e dinheiro do espectador.


A Netflix tem investido em produções originais como “House of cards”. Há planos de transformar o serviço em uma produtora?
A Netflix não quer produzir conteúdo por conta própria. O que fazemos é financiar produções alheias, como “House of cards” e a volta de “Arrested development”. No Brasil, começamos com a stand-up comedy, que já é exibida na América Latina. Queremos ajudar os produtores brasileiros a encontrar um mercado no mundo todo.


A Netflix afeta a televisão?
A Netflix não afeta a TV. Ao menos não nos EUA, onde temos 24 milhões de assinantes e a TV a cabo/satélite não encolheu.